Google mirou acordos com Samsung e fabricantes para garantir exclusividade para seus produtos, indica documento
Contratos foram apresentados no julgamento antitruste que a gigante da tecnologia enfrenta nos EUA. Eles previam exclusividade não apenas para seu sistema de busca, mas também para o Gemini AI, ferramenta de inteligência artificial, e o navegador Chrome. Contas do Google com 2 anos ou mais sem uso serão excluídas
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O Google considerou, no ano passado, fazer acordos com fabricantes de celulares Android, como a Samsung, e garantir exclusividade para seus produtos, segundo um documento apresentado, nesta terça-feira (22), no julgamento antitruste que a empresa enfrenta nos Estados Unidos.
Os contratos previam exclusividade não apenas para seu sistema de busca, mas também para o Gemini AI, ferramenta de inteligência artificial, e o navegador Chrome.
O Departamento de Justiça dos EUA acusa a gigante da tecnologia de monopólio nas buscas online e quer que o Google venda o navegador Chrome como parte de uma tentativa de restaurar a concorrência no mercado, além de adotar outras medidas.
O julgamento está sendo conduzido pelo juiz distrital Amit Mehta, em Washington. Ele já concluiu, em agosto do ano passado, que o Google agiu para manter seu monopólio em buscas online.
A disputa judicial, que está no segundo dia e deve se estender por três semanas, coloca o Google e o governo dos Estados Unidos em lados opostos. O resultado poderá dar mais argumentos para que autoridades exijam o desmembramento da big tech.
Na última sexta (18), em outra ação aberta pelo Departamento de Justiça, uma juíza federal concluiu que o Google tem o monopólio na publicidade online. A decisão sobre o que deve ser feito ainda não saiu, mas as autoridades pedem que a empresa venda parte de sua plataforma de anúncios.
Google diz ter flexibilizado contratos
Na decisão publicada em agosto, o juiz Amit Mehta concluiu que o Google protegeu seu monopólio de pesquisa por meio de acordos exclusivos com a Samsung e outras fabricantes para ter seu mecanismo de busca instalado como padrão em novos dispositivos.
Recentemente, no entanto, o Google flexibilizou acordos com Samsung, Motorola e as operadoras de telefonia AT&T e Verizon, passando a permitir que elas mostrem ofertas de buscadores rivais, de acordo com documentos apresentados no julgamento.
O Google disse ter enviado cartas aos parceiros na semana passada nas quais reiterou que os acordos não proíbem as empresas de instalar outros produtos de IA em novos dispositivos.
Esses acordos de não exclusividade são resultado de um esforço do Google para cumprir a decisão judicial, segundo a Reuters.
O Departamento de Justiça, no entanto, quer que o juiz vá mais longe e proíba o Google de fazer pagamentos lucrativos em troca da instalação de seu aplicativo de busca.
Na segunda-feira (21), promotores expressaram preocupação de que o monopólio de buscas do Google poderia lhe dar vantagens em inteligência artificial, e que seus produtos de IA podem direcionar ainda mais usuários ao seu buscador.
Como é o julgamento
O processo sobre o domínio do Google nas buscas foi aberto ainda em 2020, ainda no primeiro governo de Donald Trump. Os autores da ação são o Departamento de Justiça (DOJ) do governo federal e uma coalizão de 38 procuradores-gerais estaduais.
A disputa acontece no mesmo tribunal em que a Meta está enfrentando seu próprio julgamento antitruste sobre as compras do Instagram e do WhatsApp.
Entre as testemunhas de acusação estão representantes da OpenAI, dona do ChatGPT, e da Perplexity, que também é uma inteligência artificial que responde a buscas.
Nesta terça, o chefe de produto do ChatGPT, Nick Turley deve testemunhar sobre sobre o impacto dos acordos exclusivos do Google na distribuição de produtos de inteligência artificial.
O que quer a acusação
No primeiro dia de julgamento, um advogado do Departamento de Justiça disse, segundo a Reuters, que serão necessárias medidas rigorosas para impedir que o Google use seus produtos de inteligência artificial para ampliar seu domínio na busca online.
As propostas do DOJ para o aumento da concorrência com o Google nas buscas incluem:
o fim dos acordos exclusivos nos quais a big tech paga bilhões de dólares anualmente à Apple e a outros fornecedores de dispositivos para tornar o Google o mecanismo de busca padrão em seus tablets e smartphones.
o licenciamento de resultados de pesquisa para os concorrentes.
a venda do sistema operacional móvel Android, se outras medidas não conseguirem restaurar a concorrência.
O que diz o Google
A adoção dos remédios propostos pelo DOJ “atrasaria a inovação norte-americana em um momento crítico”, disse a executiva do Google, Lee-Anne Mulholland, em um post no último domingo (20).
“Quando se trata de remédios antitruste, a Suprema Corte dos EUA disse que ‘cautela é fundamental’. A proposta do DOJ joga essa cautela ao vento”, completou.
O Google argumenta que seus produtos de IA estão fora do escopo do caso, que se concentrou nos mecanismos de busca.